Horário de verão começa domingo em meio a crise no setor elétrico
País enfrenta queda acentuada no nível de reservatórios de hidrelétricas. Horário de verão deve levar a economia de água de 0,4%, diz governo.
Do G1,
em Brasília
Em meio ao agravamento da situação nos reservatórios das principais hidrelétricas do país, entra em vigor neste domingo (19/10) o horário de verão. A expectativa do governo é que a redução no consumo de energia no período contribua com uma queda de 0,4% no uso da água dessas represas.
A 39ª edição do horário de verão terá duração de 126 dias e terminará no dia 22 de fevereiro. À 0h (meia-noite) de sábado para domingo, os moradores de dez estados, além do Distrito Federal, terão que adiantar os relógios em uma hora.
Economia de água
Para especialistas do setor elétrico, a
economia de água dos reservatórios das hidrelétricas, apesar de pequena, é
importante diante do cenário de crise. Por conta da falta de chuvas, na quinta
(16/10) o nível nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70%
da capacidade do país de gerar energia, estava em 22,09%, o pior resultado para
essa época desde 2001, quando o país passou por racionamento.
“Essa economia [de 0,4%] não é de se jogar
fora diante da atual circunstância”, diz Roberto Brandão, pesquisador do Grupo
de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
“Os benefícios não são gigantescos, mas
ainda são significativos, continua valendo a pena. Qualquer economia de água
dos reservatórios é válida”, diz o presidente do Instituto Acende Brasil,
Claudio Sales.
De acordo com dados do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS),
entre 2010 e 2014 o horário de verão resultou em economia de R$ 835 milhões
para os consumidores, devido à eletricidade que deixou de ser gerada pelo uso
da luz do sol. Para a edição 2014/2015 do horário de verão, a economia estimada
é de R$ 278 milhões, 31% menos do que na edição passada (R$ 405 milhões).
Esses valores, porém, são muito pequenos
diante dos gastos do setor elétrico e não chegam ter impacto nas contas de luz.
Apenas os empréstimos bancários para fazer frente aos gastos extras no setor
elétrico em 2014 vão custar aos consumidores R$ 26,6 bilhões, de acordo com o Tribunal de
Contas da União (TCU).
Benefícios
Além da economia de energia, o governo
defende a manutenção do horário de verão alegando que a medida evita
investimentos de cerca de R$ 4 bilhões ao ano, com mais geração e sistemas de
transmissão de eletricidade. Segundo o Ministério de Minas e Energia, ele
permite um melhor aproveitamento da luz solar e “maior racionalidade no uso da
eletricidade.”
Outra vantagem, diz o ministério, é o
aumento da segurança do sistema elétrico e maior flexibilidade para a
realização de manutenções, além de redução da pressão sobre o meio ambiente e
nas tarifas cobradas pelo serviço. O horário de verão foi aplicado no Brasil
pela primeira vez no verão de 1931/1932.
Consumo na ponta
Entretanto outro efeito do horário de verão,
que é o de evitar picos de consumo de energia no chamado horário de ponta
(entre 18h e 21h), “perdeu um pouco da relevância” nos últimos anos, aponta
Roberto Brandão, da UFRJ.
Por conta do aumento no uso do
ar-condicionado no país, mais recentemente os picos de consumo de eletricidade
durante o verão começaram a ser registrados no início ou meio da tarde, entre
14h e 16h. Na quinta (16/10), por exemplo, ele aconteceu às 14h47, informou
Brandão.
No passado, esse pico era registrado entre
18h e 21h, devido ao aumento do consumo gerado pelo uso de eletrodomésticos
quando as pessoas saem do trabalho e voltam para as suas casas, junto com a
iluminação pública nas cidades.
“Nos últimos anos, o horário de verão perdeu
um pouco da sua relevância porque houve mudança no padrão de horário de ponta
no Brasil”, diz o pesquisador. Ele aponta, porém, que continua sendo importante
equilibrar a demanda por energia no fim do dia.
Para o professor de engenharia elétrica da
Universidade de Brasília
(UnB), Rafael Shayani, o horário de verão continua sendo importante para
“evitar a sobrecarga” do sistema elétrico durante o verão e até mesmo apagões.
“O horário de verão é necessário na medida em que a demanda por energia no
Brasil está crescendo e o setor elétrico não consegue acompanhá-la. Ela visa evitar
um apagão”, diz ele.
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