Marina Silva declara apoio a Aécio Neves no segundo turno
Decisão ocorre um dia após tucano divulgar compromissos para área social. No sábado, viúva de Campos anunciou que votará no candidato do PSDB.
Do G1
SP
Após uma semana de negociações com o
PSDB, a candidata derrotada à Presidência pelo PSB, Marina Silva, anunciou
neste domingo (12/10) que apoiará o candidato tucano Aécio Neves no segundo
turno. A decisão foi divulgada, em São Paulo, um dia depois de o presidenciável
do PSDB assumir, por meio de
uma carta aberta, uma série de compromissos para a área social,
entre os quais parte das condições impostas pela ex-senadora para apoiá-lo na reta
final da corrida pelo Palácio do Planalto.
"Tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro
meu voto e o meu apoio a sua candidatura. Votarei em Aécio e o apoiarei.
Votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de
propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à
sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos", disse
Marina, ao final de um pronunciamento de cerca de meia hora, ao lado de seu
candidato a vice na eleição presidencial, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).
"Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.
O que me move é a minha consciência, e assumo a responsabilidade pelas minhas
escolhas", complementou.
Entre as promessas assumidas pelo tucano no sábado, em resposta às
condições apresentadas pela ex-senadora, está, caso seja eleito, adotar uma
política ambiental sustentável, priorizar o ensino integral no país e a criar
um fundo para tentar solucionar os conflitos entre índios e produtores rurais,
além do compromisso de que irá trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o
fim da reeleição para cargos executivos.
Em meio ao discurso deste domingo, Marina afirmou que um dos motivos que
a motivaram a apoiar o antigo adversário do PSDB foi sua convicção sobre a
importância da alternância de poder fará bem ao país. Ela também destacou
trechos da carta de Aécio que, de acordo com a ex-senadora, atendem ao programa
elaborado conjuntamente pelo PSB e pela Rede.
A ex-ministra do Meio Ambiente ressaltou, entre outros pontos, o
compromisso do tucano de combater a discriminação; a aprovação de uma lei que
transforme o Bolsa Família em programa de Estado; a promessa de buscar o
desmatamento zero; a proteção dos direitos indígenas; compromisso com a
educação, a saúde e a reforma agrária; e a reforma política.
Sobre esse último item, Marina enfatizou a importância de pôr fim à
possibilidade de reeleição para cargos executivos. Segundo ela, essa
prerrogativa se tornou fonte de corrupção e do mau uso das instituições de
Estado.
Marina comparou os compromissos assumidos por Aécio Neves para a área
social à Carta ao Povo Brasileiro assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na campanha presidencial de 2002. À época, diante dos temores do
mercado de que ele pudesse promover mudanças drásticas na política econômica se
assumisse o Palácio do Planalto, o petista se comprometeu, por escrito, a
manter a espinha dorsal do Plano Real, dando continuidade à ortodoxia na
condução da economia brasileira.
“Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na
forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula”, observou Marina. “Doze anos
depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada:
‘Juntos pela democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável’”,
comentou.
Os termos de Marina
Marina Silva substituiu Eduardo Campos - que morreu em um
acidente aéreo, em agosto, durante a campanha eleitoral -, na
corrida presidencial. Ela se filiou ao PSB, em outubro de
2013, em razão de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter negado
registro partidário à Rede Sustentabilidade, o grupo político da
ex-senadora.
Em meio à disputa pela Presidência, Marina chegou a ser apontada pelas
pesquisas eleitorais em empate técnico com a candidata do PT à reeleição, Dilma
Rousseff, deixando Aécio na terceira posição nas simulações.
No entanto, na votação do
último domingo (5/10), Marina Silva obteve 22.176.619 votos (21,32%)
e ficou em terceiro lugar, mesma colocação da eleição de 2010. A petista
recebeu 43.267.668 votos (41,59%) e o tucano, 34.897.211 (33,55%).
Na quarta-feira (8/10), três dias depois do primeiro turno, a executiva
nacional do PSB anunciou, em Brasília, apoio ao presidenciável
tucano. Marina, entretanto, não participou da reunião e decidiu condicionar
seu apoio à inclusão no programa de governo do PSDB de uma lista de
pontos que ela considerava "fundamentais" que fossem adotados pelo
candidato tucano para que ela abrisse o voto na candidatura dele.
Marina anunciou apoio a Aécio Neves ao
lado de
seu candidato a vice na disputa presidencial, Beto
Albuquerque (Foto: Reprodução / GloboNews)
Albuquerque (Foto: Reprodução / GloboNews)
Ela solicitou, por exemplo, que ele se
comprometesse a acelerar a reforma agrária no país, manter os direitos dos
trabalhadores, dar continuidade às demarcações de terras indígenas e de
unidades de conservação, além de adotar uma política “progressista” em relação
ao clima.
Marina também pediu que Aécio incluísse em
seu programa de governo os compromissos de implantar escolas em tempo integral,
oferecer passe livre a estudantes de escolas públicas e revisar a regra do
fator previdenciário.
O texto divulgado pelo tucano no sábado, que
ele disse que foi inspirado nas propostas divulgadas pela Rede – o grupo
político da candidata derrotada do PSB –, contemplou parte das exigências de
Marina. Não foram incluídas no programa tucano, por exemplo, as propostas
envolvendo a gratuidade do transporte público e a reforma na regra
previdenciária que inibe as aposentadorias precoces.
Ao final do evento na capital de Pernambuco,
o deputado federal Beto Albuquerque (RS), que concorreu a vice na chapa de
Marina, afirmou que o documento divulgado por Aécio contemplava as
reivindicações apresentadas pela ex-senadora e abria caminho para ela declarar
apoio ao tucano. "Esse documento responde as contribuições que o PSB, a
Rede, eu, Marina e todos nós encaminhamos", enfatizou.
Segundo o Blog
do Camarotti, antes de fazer o pronunciamento deste sábado, o candidato do
PSDB encaminhou os pontos de seus compromissos a integrantes da Rede, que
aprovaram os termos programáticos do tucano para a área social.
Candidato do PSDB posou para fotos ao
lado de
sua filha, Gabriela, e dos familiares de Campos.
(Foto: Luna Markman)
sua filha, Gabriela, e dos familiares de Campos.
(Foto: Luna Markman)
Viúva de Campos
No sábado, após divulgar a carta
compromisso, Aécio Neves se reuniu com
Renata Campos, viúva do ex-governador pernambucano Eduardo Campos,
que morreu em um acidente aéreo em agosto. No encontro, que tem peso simbólico
para o presidenciável do PSDB, ele almoçou com a família de Campos e líderes do
PSB e do PSDB de Pernambuco.
Renata não falou com a imprensa, mas
divulgou uma carta na qual listou os motivos que a levaram a declarar apoio ao
candidato do PSDB no segundo turno. O texto destaca a consternação de sua
família com a morte trágica de Eduardo Campos e afirma que o governo federal se
tornou "incapaz" de promover as mudanças idealizadas por seu marido.
A viúva também ressaltou na carta pontos em
comum na trajetória política entre Aécio e Campos e disse que acredita na
capacidade de "diálogo e gestão" do tucano
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