JN mostra flagrantes do desrespeito a cidadãos com deficiência no país
Foi ao no jornal Nacional
(Globo) ontem, segunda (14/09).
Pelo
menos em teoria, você, qualquer pessoa da sua família, um amigo, qualquer
cidadão têm o direito de ir e vir, no Brasil. Tem artigo da Constituição que
trata dessa liberdade, mas isso é só na teoria.
Nesta semana, os repórteres Leandro
Cordeiro, Jonathan Santos e Marcos Losekann apresentam um retrato dos problemas
de acessibilidade no país. O desrespeito do Brasil com as pessoas que têm
alguma deficiência.
Uma pedrinha de nada no caminho de quem usa
as pernas é uma montanha intransponível para quem depende de rodas.
Quem usa muleta ou cadeira de rodas sabe bem
o que significa um meio fio sem rampa, ônibus que não tem elevador, ou que tem,
só que estragado. Buracos que mais parecem crateras. Pedreira para todo lado.
“É de eu cair e não conseguir levantar.
Quanto eu estou no chão não consigo levantar”, conta Maria de Lousa de
Oliveira, dona de casa.
E quando o problema é não conseguir
enxergar? Dentro de casa, Éder Fonseca até que se vira. “Porque eu sei onde eu
coloco tudo. Se alguém vier aqui e mudar de lugar, por exemplo, aí já
complica”, explica Éder Fonseca, massagista.
O pior é da porta para fora. O que os
deficientes geralmente mais valorizam é a própria independência. Poder se
virar, sem depender de ninguém. Esse seria o mundo ideal para eles. Só que no
mundo real, com tantos percalços, não há determinação nem força de vontade que
consigam superar as dificuldades espalhadas pelo caminho. E o jeito as vezes é
contar com uma mãozinha.
A Natália tem um grande motivo para
comemorar. Ela acaba de receber moderníssimos aparelhos de ouvido importados da
Europa. “Me fez descobrir novos sons que eu não escutava”, diz a jogadora de
vôlei.
O que a Natalia sempre teve foi uma boa
visão. Na quadra do time de vôlei, inclusive jogando pela seleção brasileira,
ela não vê dificuldade.
Um em cada sete habitantes da Terra não
enxerga, não ouve, não se move direito ou tem problemas mentais. No Brasil, um
quarto da população apresenta algum tipo de deficiência, segundo o IBGE. Gente
que tem o direito de ir e vir, mas que nem sempre encontra condições para isso.
É o que acontece em Brasília. Planejada, patrimônio da humanidade, mas essa
cidade, construída no centro do Brasil, está longe de ser a capital da
acessibilidade.
Outro exemplo é o Rio de Janeiro, a Cidade
Olímpica, que vai sediar também os Jogos Paralímpicos no ano que vem. Em termos
de acessibilidade, não é considerada maravilhosa. Pelo contrário, o atleta com
qualquer tipo de deficiência que decidir sair do centro esportivo para dar um
passeio terá muitos obstáculos para superar.
Livingston e André não enxergam nada. São
jogadores de um time de futebol de deficientes visuais. Invencíveis para eles,
só as ruas do Rio, onde vivem.
Situações que contrastam com o moderníssimo
prédio administrativo dos Jogos Olímpicos. A começar pelas rampas, que
realmente dão acesso. O Augusto é o engenheiro responsável.
Têm surdos e também cegos na equipe dele.
Mais de 70 funcionários. No paraíso da acessibilidade, eles mal lembram das
dificuldades.
“Eu tenho essa sensação. Eu só percebo a
minha deficiência quando falta acessibilidade”, diz Augusto Fernandes,
engenheiro.
O instrutor e auditor da Associação
Brasileira de Normas Técnicas aceitou o desafio de andar por alguns lugares
mais famosos do mundo: o Calçadão de Copacabana.
“Não tem piso uniforme, contínuo. Isso
porque a gente está em Copacabana que não é um dos piores lugares por aqui”,
diz Edison Passafaro, instrutor e auditor-ABNT.
Mas tem rampa, não é? “Isso aqui e nada é a
mesma coisa. A mesma habilidade que eu uso para descer aqui, eu uso para descer
o meio fio. Uma rampa armadilha”, afirma.
Armadilha que não poupa ninguém.
Acessibilidade, cidadania, respeito. Juntar tudo isso pra permitir a
convivência de todos: está aí uma missão pra quem enxerga longe, sabe ouvir
críticas e sugestões e se mexe.
A prefeitura do Rio declarou que está
trabalhando para tornar a cidade mais acessível, que, em breve, vai adaptar o
acesso aos principais pontos turísticos do Rio para pessoas com deficiência. E
instalar mais de 500 rampas na cidade.
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