Hulk deve comunicar à TV Globo que é candidato
Blog
do Adriano Roberto
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Gazeta MT |
O apresentador Luciano
Huck deverá fazer, depois do Carnaval, um novo anúncio a respeito de sua
intenção de concorrer à Presidência. Em manifestação enviada ao processo que
sofre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por campanha antecipada, ele
reiterou o que afirmara em artigo publicado em novembro: não é candidato.
Mas continua a se
movimentar como se fosse. Quem acompanha o noticiário lerá a respeito de seus
conselheiros econômicos, programa, inspiração e parceiros num eventual governo.
Lerá também que Huck conta com o apoio velado do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, insatisfeito com a candidatura do tucano Geraldo Alckmin.
Os predicados de Huck
são óbvios. É um homem de televisão bem-sucedido, popular e sem os danos de
imagem que mancham os políticos de carreira. Embora seja a mais perfeita
expressão da elite que desperta tanta repulsa, ele consegue, em virtude da
carreira televisiva, estabelecer comunicação direta com o povo.
Ninguém sabe ao certo
que tipo de ideia Huck defende, mas se imagina que ficaria num campo político
alcunhado “centro”, por oposição à polarização ideológica entre as candidaturas
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ou quem quer que o PT indique para
substituí-lo) e do deputado Jair Bolsonaro.
Nesse “centro”, cabe
basicamente qualquer coisa que não seja nem PT nem Bolsonaro. Cabe um banqueiro
que ocupa a cadeira de ministro da Fazenda. Cabe a ex-ambientalista que rompeu
com o PT e quase chegou lá em 2014. Cabem aqueles que se apresentam como o
“novo”. Cabe o presidente da Câmara. Cabe até o atual presidente da República.
E cabe, naturalmene, o “picolé de chuchu”, precursor na arte de satisfazer a
qualquer público com sua imagem cambiante e sem sabor.
Não é muito difícil
deduzir que todos esses perderiam com uma eventual candidatura Huck, afinal
eles disputam o mesmo voto, o insatisfeito com as opções PT e Bolsonaro.
Bolsonaro, que corteja
esse voto para crescer, também perderia. Mas menos que os demais, já que seu
eleitorado se consolidou. Em contrapartida, ele se beneficiaria da pulverização
do voto do “centro” entre vários nomes. Basta lembrar que, em 1989, sete candidatos
pontuaram acima de 4,5%, permitindo que Lula passasse ao segundo turno com
apenas 17,2% dos votos, patamar aproximado de Bolsonaro hoje na pesquisa
estimulada.
De acordo com a última
sondagem do Datafolha, divulgada em janeiro, o eleitor indefinido ainda é ampla
maioria. Dois terços do eleitorado não sabem em quem votar ou afirmam que
votarão nulo ou branco. Lula e Bolsonaro estão estacionados desde a metade do
ano passado, o primeiro em 17%, o segundo em 10% na pesquisa espontânea (na
estimulada, esses valores correspondem a 35% e 18%).
De que existe,
portanto, espaço para um terceiro nome que atraia a maioria indefinida, não há
dúvida. A questão é se alguma das opções apresentadas tem mais chance que as
demais, a ponto de destacar-se e evitar a pulverização que apenas beneficiaria
o voto nos dois extremos. Nesse ponto, embora a pesquisa seja nebulosa, ela não
favorece Huck.
Os nomes logo após Lula
e Bolsonaro na estimulada são Marina Silva (7% a 16%, dependendo do cenário),
Ciro Gomes (6% a 13%) e Alckmin (6% a 11%). Huck vem logo em seguida (5% a 8%).
No patamar médio de 8%, Alckmin supera Huck (6%). Este fica mais próximo de
João Doria (5%), Álvaro Dias (5%) e Joaquim Barbosa (4%).
Os resultados das
pesquisas não passam, é claro, de pretexto para os movimentos. A aposta em
nomes externos à política tem mais relação com o sentimento, frequente entre
políticos e empresários, de que o eleitorado revoltado precisa ser apaziguado –
ou então poderá tomar uma decisão arriscada demais.
Há um
erro óbvio nessa visão. O que pode haver de mais arriscado do que pôr na
Presidência da República alguém sem a menor experiência política, sem nenhum
conhecimento de gestão pública, cujos maiores predicados são o sucesso na
televisão, a rede de relacionamento e a certeza de que não representa nenhum
dos dois campos políticos que contam com inequívoco apoio popular?
Nem é preciso citar
Silvio Berlusconi ou Donald Trump para enxergar as limitações de Huck. Basta
lembrar o próprio Lula, atordoado nos primeiros meses de governo, até entender
em que consiste o trabalho do presidente. Seu governo ficou desde o início nas
mãos dos ministros José Dirceu e Antônio Palocci, hoje criminosos condenados,
como o próprio Lula. Se quiser candidatar-se, Huck precisa desde já compreender
que o risco maior se apresenta para ele mesmo: ter de governar.
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