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Instituto solta mais de 34 mil filhotes de cavalo-marinho no Litoral Sul de Pernambuco em um ano


Mais de 34 mil filhotes de cavalo-marinho foram soltos no Litoral Sul de Pernambuco, durante o ano de 2021 (veja vídeo acima). As ações foram feitas pelo Projeto Hippocampus, que há 25 anos, sem fins lucrativos, atua para monitorar e conservar a população de cavalos-marinhos no Brasil. Desde 2009, início da contagem dos dados, foram mais de 860 mil animais.

O cavalo-marinho, que é um peixe, está na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção. Desde 2014, a captura foi proibida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Em aquários, os integrantes do Projeto Hippocampus cuidam dos animais para que eles se reproduzam e, assim, os filhotes sejam levados ao meio ambiente. Foram, em 2021, 48 saídas de campo, em que foram feitas solturas, observações dos animais existentes e monitoramento.

De acordo com a coordenadora do projeto, Rosana Silveira, que é professora e pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), as solturas foram feitas no Pontal de Maracaípe, em Ipojuca, e na região de Suape, nos estuários dos rios Tatuoca e Massangana e na Ilha de Cocaia. Cerca de 80% dos filhotes foram soltos em Maracaípe e os outros 20%, em Suape.

"A gente reproduz eles em laboratório. Geralmente nascem de madrugada e, no dia seguinte, nós soltamos. Sempre contamos os filhotes, para fazer uma estimativa de fertilidade do casal. No meio ambiente, os cavalos-marinhos vivem cerca de 5 anos, mas, em laboratório, sem predador, chegam a bem mais tempo", explicou.

Atualmente, 14 casais de cavalos-marinhos vivem no Projeto Hippocampus. São nove de Maracaípe e cinco da região portuária de Suape. Quem fica grávido é o macho. A fêmea deposita ovos numa bolsa na barriga do macho, que os insemina com seus espermatozoides.

Todos são da mesma espécie, Hippocampus reidi, mas segundo Rosana Silveira, o projeto não solta em Maracaípe filhotes de casais de Suape e vice-versa.

"Normalmente, cada região tem sua população de cavalos-marinhos e um conjunto fisiológico e genético adaptado para aquela região. Até que um estudo comprove que não há problema em misturar essas populações, não vamos misturá-las", disse a professora.

A estimativa é de que, no meio ambiente, somente 1% dos filhotes sobreviva, mas o dado não é preciso, já que os filhotes são tão pequenos que é impossível marcá-los para avaliar a sobrevivência. "Em laboratório, já conseguimos até 86% de sobrevivência de uma ninhada", afirmou Rosana Silveira.

A professora explicou que a vida sexual do cavalo-marinho é monogâmica e que um casal fica junto por toda a vida sexual dos dois. Mas os "divórcios" também acontecem.

"A gestação dura 12 dias e, depois de parir, o macho já começa a cortejar a fêmea. Se ela tiver ovos, ele pode ficar grávido no mesmo dia. Eles têm um parceiro por vez, mas também pode ocorrer de manterem três estações de reprodução e depois trocar. E, claro, se um dos parceiros morrer, o outro não fica viúvo para sempre. Arruma logo outro", brincou.


Rosana Silveira é apaixonada pelos cavalos-marinhos. Gaúcha, ela já desenvolvia o projeto na década de 1990, no Rio Grande do Sul, quando sequer tinha vínculo com universidade. O amor começou durante a montagem de um aquário na casa dela.

Quando fundou a ONG, em 1995, Rosana pôs o nome de Laboratório de Aquicultura Marinha (Labaquac). Em 2016, foi reformulado e passou a denominar-se Instituto Hippocampus. A entidade é registrada no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA) e integra a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Os pesquisadores do projeto trabalham em parceria com diversas universidades, além de órgãos ambientais municipais, estaduais e federais. O programa funciona, atualmente, no Centro de Treinamento de Suape, com quem o instituto tem uma parceria.

"Montei um aquário de água doce e deu problema. Entrei numa loja, vi um cavalo-marinho e me apaixonei. Depois disso, decidiu montar um aquário de água salgada. Entrei na faculdade bem tarde, e só depois de me formar é que levei o cavalo-marinho para a universidade, numa bolsa de aperfeiçoamento, e até hoje continuo. Nem sei mais há quanto tempo estou trabalhando com esses bichinhos", disse.

Impactos

Engenheiro de pesca da Universidade federal Rural de Pernambuco, Zeca Pacheco integra o projeto Megamar Professor Fabio Hazin, que monitora a megafauna marinha na área portuária de Suape, no Litoral Sul.

Segundo ele, a pesca de cavalos marinhos colabora com a redução “drástica “ da quantidade de animais.

“Eles têm uma reprodução delicada em ambientes já impactados. A pesca impede que eles se reproduzam e façam repovoamento naturalmente”, acrescentou.

Ainda de acordo com ele, mesmo quando os impactos são temporários, muitas vezes, populações de animais não conseguem se restabelecer no ambiente novamente, que é o caso dos cavalos marinhos.

“Por isso, trabalhos de pesquisa, monitoramento do ambiente e repovoamento são fundamentais para que esse magnifico animal continue fazendo parte dos ambientes aquáticos, e que possa assim desenvolver seu papel ecológico no meio e colaborar para o reequilíbrio que foi perdido por conta das ações antrópicas já citadas”, afirmou.

Ainda de acordo com o professor, as áreas e manguezal, onde os cavalos-marinhos do Projeto Hippocampus são monitorados, têm “grande fragilidade”, mas possuem “ certa capacidade de resiliência”.

Ainda de acordo com o professor, os organismos que neles vivem, possuem diferentes estratégias de reprodução e de readaptação.

Ele cita que um ambiente impactado por um intervalo de tempo por poluentes químicos pode acabar com organismos muito sensíveis, como, por exemplo, algas (fitoplancton) e animais (zooplacnton).

“Ambos não possuem capacidade ou estruturas fisiológicas para desenvolver capacidade natatória para vencer correntes e ficam à deriva na água. De certa forma, os outros organismos, mesmo que sejam resistentes a este poluente, se prejudicam diretamente, já quem os plânctons são a base da cadeia alimentar, e os cavalos marinhos se alimentam também desses micro organismos”, explicou.

Fonte: G1

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