Polícia indicia três pessoas por causa de acidente com micro-ônibus que matou cinco e deixou 29 feridos em procissão de Páscoa
O indiciamento dos três foi por homicídio e lesão corporal com dolo eventual, quando se assume o risco mesmo sem a intenção de matar. A polícia disse que não encontrou motivos para pedir a prisão dos envolvidos durante a investigação.
A conclusão do inquérito foi divulgada pela Polícia Civil em entrevista coletiva nesta quinta-feira (21), quase oito meses após o atropelamento, ocorrido no dia 31 de março (relembre o caso mais abaixo).
O acidente aconteceu na Avenida Barreto de Menezes, no trecho conhecido como "ladeira da Adelaide". O veículo de transporte complementar, que fazia a linha 118 - Marcos Freire/Barra de Jangada e estava sem passageiros, desceu a pista desgovernado quando os participantes da procissão passavam no local.
Após bater no muro de uma escola, o coletivo só parou com o atrito dos corpos das vítimas no chão. No dia do acidente, quem dirigia o micro-ônibus era um idoso de 74 anos. Ele é pai de um motorista que pagava uma diária ao permissionário para trabalhar na linha transportando passageiros. A prática de alugar veículos para terceiros não é permitida pela prefeitura.
De acordo com o delegado Gilberto Loyo, antes do acidente, o ônibus apresentou problemas no sistema de freios e o motorista ligou para o permissionário e o pai dele, que o ajudaram a levar o coletivo para a garagem.
"Em vez de chamar um reboque, eles manipularam o sistema de freios, destravando as rodas traseiras para fazer esse veículo pegar no empurrão", contou o delegado.
Ainda segundo Gilberto Loyo, depois que conseguiram ligar o motor, o veículo seguiu viagem até o local por onde passava a procissão. Devido à quantidade de gente na via, fazendo o motorista parar o carro várias vezes, o freio deixou de funcionar, o que fez o micro-ônibus derrapar na ladeira.
"O veículo não tinha mais freio. A decisão do motorista foi jogar o veículo na calçada. Uma decisão que potencializou a capacidade de causar danos, já que havia pessoas caminhando na calçada", afirmou o delegado.
A investigação também concluiu que o motorista poderia ter evitado o atropelamento se tivesse colidido com algum dos veículos que estavam na via.
"O fator determinante do acidente foi realmente a falta de freio no início da ladeira. Mas o fator contribuinte e, principalmente, agravante foi a conduta do motorista ao decidir livrar o veículo da frente e chegar nos pedestres", declarou o policial rodoviário especialista em perícia Marco Aurélio Santana, que participou das investigações.
Ele informou que o micro-ônibus estava numa velocidade muito baixa e que o acidente era evitável. "Ele poderia, sim, ter deixado o carro colidir na traseira dos demais. Havia seis carros entre o ônibus e as pessoas. Então, esses seis carros tinham freios suficientes para sustentar um micro-ônibus vazio", detalhou o policial.
Conforme informado pelo delegado, quando o micro-ônibus apresentava algum problema, o motorista acionava o pai do permissionário.
"Ele pagava um valor para rodar com esse ônibus. Ao final, ele pagava e ficava com o resto da arrecadação. Quem resolvia as demandas de conserto, dos reparos, da manutenção desse veículo era, principalmente, o pai do permissionário", explicou Gilberto Loyo.
Após a conclusão do inquérito, a Polícia Civil remeteu o caso ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que pode denunciar os indiciados à Justiça, pedir o arquivamento do processo ou solicitar novas diligências.
Como foi o acidente
Imagens enviadas à TV Globo registraram o momento em que o micro-ônibus desceu a ladeira desgovernado e atropelou os fiéis que participavam da procissão, organizada pela Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (veja vídeo acima);
O micro-ônibus, que operava a linha 118 - Marcos Freire/Barra de Jangada e tem autorização do município para circular como transporte complementar, não levava passageiros no momento do acidente;
O veículo saiu da praça do terminal de ônibus de Marcos Freire e seguia para a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro quando derrapou na pista e atingiu 34 fiéis;
Do total de vítimas atropeladas, cinco morreram após o acidente e 29 ficaram feridas — ao menos uma delas ficou com sequelas graves;
O motorista fugiu após o atropelamento, mas foi identificado pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que não divulgou o nome dele;
Ao g1, por telefone, a secretária de Serviço Social de Jaboatão dos Guararapes, Maria Jacinta da Silva, confirmou que faltou freio ao micro-ônibus durante o percurso;
No dia seguinte ao acidente, o motorista prestou depoimento na Delegacia de Prazeres.
Em entrevista à TV Globo, a advogada Dayse Martins, que representa o proprietário do micro-ônibus, disse que o veículo tinha sido alugado para outro motorista e informou que era o pai desse motorista quem dirigia o coletivo no momento do acidente.
Fonte: G1
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