Deputados de Pernambuco prometem levar carta a Lula contra a privatização do metrô; secretário de Raquel não assina
Na manhã desta segunda-feira (20), a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) sediou uma audiência pública sobre o presente e futuro da MetroRec, sistema ferroviário da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) na região metropolitana do Recife. O tom foi amplamente contrário à possibilidade de privatização do sistema. Os deputados estaduais João Paulo (PT) e Rosa Amorim (PT) se comprometeram a entregar uma carta ao presidente Lula para retirar o Metrorec do Plano Nacional de Desestatizações (PND).
O deputado João Paulo apontou como consequências dos processos de privatização o encarecimento do serviço para o usuário, tornando-o menos acessível. “A precarização do transporte público já aumentou os custos da previdência em R$ 300 milhões pelos acidentes de moto. É um preço muito caro”, reclamou o parlamentar. Ele relaciona a possibilidade de transferência da gestão do Metrorec com a escassez de recursos. “O Congresso tem R$ 50,4 bilhões em emendas e o metrô só precisa de R$ 2,2 bilhões. Então a pressão popular é fundamental”, avalia.
A deputada Rosa Amorim (PT) considera que “a alternativa para o transporte público, digno e de qualidade não é a privatização. Nos querem convencer que privatizar é modernizar, dizem que é inevitável, mas é um novo problema. O que precisamos é priorização”, disparou. Dani Portela (Psol) lembrou casos de outras cidades. “Em Belo Horizonte (MG) houve um aumento de 30% da tarifa. No Rio (RJ), as linhas privatizadas têm a maior tarifa do país, a R$ 7,90. As empresas querem lucro acima de tudo”, criticou Portela. “O que é público deve servir ao interesse público, não só ao consumidor”, finaliza.
Deputados pernambucanos se comprometeram em entregar carta a Lula contra a privatização do Metrorec | Anderson Stevens
O superintendente interino da CBTU também participou da audiência e garantiu que a empresa tem capacidade de executar as obras necessárias para sua modernização. “Hoje, o valor que vocês estipularem, eu garanto que o corpo técnico da CBTU terá capacidade de executar. Temos toda a estrutura necessária e capital humano para que se realize”, pontuou Pietro Duarte, destacando ainda que o que falta é a classe política dar prioridade aos investimentos no Metrorec. “Hoje temos um plano de salvamento montado que depende exclusivamente da boa vontade, empenho e priorização”, finalizou.
O presidente do Sindicato dos Metroviário de Pernambuco, Luiz Soares, cobrou do presidente Lula (PT) o cumprimento da promessa dele à categoria durante a campanha eleitoral de 2022. “Eu entreguei nas mãos dele o documento e ele se comprometeu a não privatizar empresas estratégicas. Então por que ele está privatizando a CBTU?”, questiona. “Não pode conceder à governadora Raquel Lyra, que não tem compromisso nenhum – se tivesse, não estaria privatizando a Compesa”, reclamou Soares. O professor e comunicador Jones Manoel também participou do evento.
Durante a audiência pública, João Paulo leu a carta a ser entregue ao presidente da República, afirmando “profunda preocupação” com as negociações para transferir a gestão do Metrorec do Governo Federal para o Governo de Pernambuco. “O passo político e socialmente consequente seria consolidar o Metrô do Recife como base para a implementação da Tarifa Zero metropolitana, uma medida que aproximaria ainda mais o Governo Federal do povo trabalhador”, diz o documento.
O professor e comunicador Jones Manoel, durante audiência pública no Recife | Nando Chiapetta/Alepe
A carta também pede que o governo Lula implemente a tarifa zero nos trens do Recife. “Mais de 100 cidades brasileiras já adotam programas de tarifa zero no transporte coletivo, com efeitos positivos sobre a inclusão social, a economia local e o meio ambiente. (…) Nenhum outro sistema da Região Metropolitana do Recife tem a mesma capacidade de transporte e potencial de induzir o desenvolvimento sustentável”.
As lideranças presentes na mesa assinaram a carta, mas o secretário de Mobilidade do Governo de Pernambuco, Pedro Neves, representante da gestão Raquel Lyra no evento, não quis assinar.
Confira outros trechos importantes da carta a ser entregue ao presidente Lula.
“A proposta de concessão atual carrega sérios riscos: de um lado, o Governo Federal seguiria aportando a maior parte dos investimentos necessários à recuperação do sistema (mais de 90% do total, em alguns casos), enquanto a gestão e execução ficariam nas mãos da iniciativa privada, sem os controles de transparência e legalidade que regem a atuação das estatais.”
“Mesmo privatizado, o sistema seguiria demandando subsídios públicos, transferindo o risco de operação para o Estado, mas garantindo o lucro do concessionário. Trata-se de um modelo que não traz garantias de melhoria para os usuários e ainda ameaça o caráter social do transporte metroferroviário.”
“Reivindicamos uma postura diferente da que vem sendo adotada no discurso das instâncias de governo e nas ações efetivas referentes ao processo de transferência do Metrô do Recife. Diante disso, nos colocamos à disposição para contribuir tecnicamente e politicamente na construção de alternativas que modernizem o sistema sem abrir mão do interesse público, da transparência e do direito da população a um transporte coletivo acessível e universal.”
Fonte: brasildefato




Post a Comment