Hospital comunica morte de mãe de padre do interior de PE por equívoco
Do G1 PE
"Me deu um
transtorno psicológico que eu nem sei descrever", conta o padre
Dijailson
Canuto (Foto: Thays Estarque
/ G1)
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O padre de Glória do Goitá, na Zona da Mata
Norte de Pernambuco, Dijailson Canuto, de 33 anos, viveu uma situação inusitada
na ultima sexta-feira (11/09). Com a mãe internada desde o dia 4 de setembro
para tratar um quadro de infecção pulmonar no Hospital Getúlio Vargas (HGV), no
Recife, recebeu a notícia da morte dela através do serviço social da unidade de
saúde. Depois de contratar o serviço funerário, comunicar a família e paróquias
vizinhas, o sacerdote descobriu que Josefa Canuto, 65 anos, estava viva e
passando bem.
Bastante emocionado e ainda perplexo pela
situação inusitada, o padre contou que passou por duas dimensões de realidade e
sentimentos. "Eu tinha ido à capital para visitá-la, então primeiro veio o
choque pela morte, para assimilar, chorar e notificar os parentes, além de
providenciar toda a parte burocrática que envolve o fato. Depois entramos em
outro choque com ela viva, me deu um transtorno psicológico que eu nem sei
descrever", contou.
Indignado, o sacerdote ressaltou que o
hospital ainda não apresentou nenhuma justificativa para o ocorrido. "Só
foi aquela coisa amadora de dizer: 'Me desculpe, houve um erro'". Canuto
ainda relatou que não confia mais no tratamento que a mãe está recebendo na
unidade. "A saúde pública do nosso estado está realmente um descaso total
e o Hospital Getúlio Vargas é a prova disso. Ali falta desde medicamento até
material básico de limpeza. Parece que quando o caos toma conta, a negligência
aparece. Agora desconfio dos procedimentos internos, minha mãe está lá e eu
aqui com medo do que pode acontecer", completou.
A notícia da morte se espalhou tão rápido
quanto a do erro. Além da rádio localizada no município, 70 paróquias e a rádio
comunitária de Ferreiros, mesma região do estado e cidade natal da família do
padre, foram responsáveis por replicar o fato. "Lá em Ferreiros colocaram
um carro de som passando de cinco em cinco minutos divulgando o dia e a hora da
missa de corpo presente", relembrou Dijailson.
(Foto: Thays Estarque / G1) |
Repórter da rádio Goitacaz, de Glória do
Goita, Gilmar Santos, 32 anos, explicou que até uma nota oficial escrita pelo
sacerdote foi emitida para a população de 32 mil pessoas. "Foi um choque,
não sabíamos direito como íamos dar essa notícia para o povo. Em 12 anos de
rádio nunca dei uma notícia dessa, vimos até na televisão casos parecidos, mas
nunca achei que teria um tão perto". Gilmar disse também que o incidente
está sendo visto como um milagre. "O que se ouve por aqui é: 'Graças a
Deus que ela está vida'", contou.
Vigário paroquial no município há um ano,
padre Dijailson é tido como um homem carinhoso e que luta pelos direitos dos
moradores. Para a coordenadora da catequese, Inês Maria Pedroso, de 44 anos, é um
absurdo isso ter acontecido com o sacerdote. "Para qualquer ser humano
isso é muito constrangedor, ainda mais para ele que zela e cuida tão bem
daquela mãe. É uma falta de respeito, todos nós nos comovemos, ficamos tristes,
entramos em oração para o nosso vigário".
Por conta do erro e do transtorno que foi
causado na família do padre, a assessoria jurídica da paróquia está terminando
de colher a documentação para dar entrada numa ação contra o HGV.
"Entraremos com uma ação de ideanização de danos morais e materiais porque
os seis irmãos que moram fora chegaram a emitir passágens aéreas após a
comunicação do falso falecimento. Além de pedir um ressarcimento do drama
sofrido pelos familiares, buscamos coibir o hospital a não praticar mais esse
tipo de conduta irresponsável", informou Silvio Latache, advogado.
Através de nota, a Secretaria de Saúde de
Pernambuco informou que a direção do HGV "se solidariza com a família da
paciente Josefa Canuto Martins e garante que vai investigar o ocorrido para
tomar todas as providências cabíveis no caso".
Enquanto isso não acontece, a população de
Glória do Goita se apega à crença popular da região de que a pessoa que é tida
como morta, sem estar, viverá por muito tempo.
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