Tragédia da hemodiálise, que deixou 60 mortos em PE, completa 20 anos
Foi ao no jornal
Nacional (Rede Globo).
Esse mês de fevereiro marca o aniversário de
uma tragédia brasileira no setor da saúde. Em 1996, 60 doentes renais morreram
em Caruaru, no agreste pernambucano, intoxicadas quando faziam tratamento de
hemodiálise. Vinte anos depois, muitas famílias ainda não receberam as
indenizações.
A vida de dona Cícera ficou marcada por uma
tragédia.
"Eu vi meus amigos indo embora, meu
esposo indo embora. Minha vida desabando”, conta Cícera Maria dos Santos,
parente de vítima.
O marido dela foi um dos mais de 100
pacientes renais intoxicados durante uma sessão de hemodiálise no Instituto de
Doenças Renais de Caruaru, no agreste de Pernambuco, em 1996. Sessenta pessoas morreram de hepatite tóxica.
A conclusão foi que as mortes foram provocadas por uma toxina chamada
microcistina, liberada pelas bactérias presentes na água usada nas sessões.
Na época, os proprietários da clínica
alegaram que a água vinha da companhia de saneamento de Pernambuco. A companhia
disse que garantia a qualidade da água, mas que não era responsável pelo que
acontecia quando ela chegava à clínica. A Justiça condenou os sócios Bráulio
Francisco Coelho Neto e Antonio Bezerra Filho a pagarem 100 salários mínimos às
famílias das vítimas que morreram e 90 salários mínimos para as famílias das
que sobreviveram.
A clínica funcionava onde hoje é um posto de
saúde municipal. Vinte anos depois da tragédia, o caso está longe de chegar ao
fim. Algumas famílias não receberam nem um centavo da indenização. Outras até
receberam, mas um valor muito pequeno em relação àquilo que têm direito.
"Quando isso aconteceu eu falei: eu vou
morrer e ninguém vai receber esse dinheiro. E tanto é que eu já estou com 77
anos e só recebi R$ 4,5 mil", diz Zeneide Trajano, parente de vítima.
O juiz disse que já foram pagos mais de R$ 1
milhão de indenizações, mas reconhece que ainda falta ser paga uma quantia calculada
em R$ 1,5 milhão.
"Os advogados têm encontrado uma enorme
dificuldade em encontrar bens em nome do instituto e, até mesmo, em nome de
seus sócios", explica o juiz Tadeu Passos.
Segundo o juiz, já foi feita uma busca em
cartórios e juntas comerciais, mas os sócios da clínica não têm bens em nome
deles. Os empresários não estão mais na cidade. Enquanto isso as famílias
aguardam por um desfecho.
"No final, fica aquela história: ganha,
mas não leva", diz a advogada Lucimary Passos.
"O povo diz que a esperança é a última
que morre, mas, infelizmente, dentro de mim ela morreu", lamenta dona
Cícera.
Post a Comment