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Conheça os testes confiáveis para o Covid 19

À medida que crescem os casos de contágio de coronavírus e de mortes pela Covid-19, aumenta também a oferta de testes para detectar a doença.

No estágio atual da pandemia no Brasil, quando muitas cidades apresentam planos de flexibilização da quarentena, essa alta da capacidade de testagem é uma ótima notícia. Até o começo de junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tinha concedido registro a 134 testes — 106 deles importados, a maioria de países asiáticos, onde a pandemia começou. Há um mês e meio, o número era um terço disso. Se somados os pedidos em análise e os negados, a Anvisa já recebeu cerca de 450 solicitações.

A expansão da oferta por várias empresas é bem-vinda porque nenhuma sozinha teria condições de abastecer totalmente o mercado. “Essa é uma doença nova, não existia um diagnóstico e até hoje não há um medicamento específico ou vacina. Então é natural que a indústria tenha se mobilizado para desenvolver os testes e natural que fosse aumentar a concorrência”, explicou Priscilla Franklim Martins, diretora executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

A questão é que, como em todo mercado, no de testes há diferentes produtos com distintos níveis de qualidade e eficácia. A Abramed já recebeu denúncias de quiosques para testagem duvidosa em postos de gasolina, de testes piratas e até de farmácia que vendia exame para a pessoa levar para fazer em casa, como se fosse teste de gravidez (a leitura para o chamado sars-CoV-2, designação do novo coronavírus, é bem mais complexa do que um ou dois tracinhos). Além disso, não raro o público leigo, que já lida com medo e desinformação sobre o novo coronavírus, se vê perdido em meio à variedade de testes possíveis e às diferentes indicações, que variam de acordo com o tempo de sintomas ou de contato com uma pessoa infectada.
Especialistas são unânimes em dizer que é preciso testar a população. Mas com o teste certo. “Mais importante do que ter muitos testes é ter aqueles que forneçam informação adequada. A aplicação indiscriminada de testes sem qualidade deve ser uma preocupação”, alertou José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM).

Só em Wuhan, onde surgiu a pandemia, a China fez 10 milhões de testes. Foto: Kevin Frayer / Getty Images
Os exames oferecidos comercialmente hoje no Brasil para Covid-19 se dividem em dois universos. O primeiro são os chamados testes moleculares, que detectam a presença direta do vírus no organismo. O principal é o chamado teste RT-PCR, ou PCR em tempo real, que usa amostras colhidas das vias respiratórias do paciente com uma espécie de cotonete. Foi com essa técnica, por exemplo, que médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, depois de pesquisar em laboratório métodos de teste para identificar o novo coronavírus, chegaram ao diagnóstico do primeiro paciente confirmado com Covid-19 no país, noticiado em 26 de fevereiro. É um exame apurado e preciso, mas que também exige estrutura física e tecnológica específica, além de reagentes importados — o que gerou limitações de expansão no momento em que havia uma corrida mundial pela compra desses insumos de testagem.

Com a disseminação dos casos no Brasil, e considerando que o PCR não seria aplicado em massa por causa de complexidade, custo da tecnologia e necessidade de insumos específicos, abriu-se espaço para outro grupo de testes, os chamados testes de anticorpos. São exames sorológicos, isto é, por meio de um exame de sangue, o laboratório analisa se o paciente teve contato com o novo coronavírus não pela presença do vírus, mas de anticorpos produzidos pelo organismo a partir do contato com ele. É um método mais barato e acessível, embora considerado de menor sensibilidade e especificidade. Entram também nesse grupo os chamados testes rápidos. A análise de anticorpos é feita com o sangue de uma “furadinha” na ponta do dedo. São ainda mais velozes — os resultados podem ser lidos em 15 minutos —, mas também mais imprecisos: a quantidade de falsos negativos é maior em comparação aos testes moleculares e exigem profissionais treinados para a interpretação dos resultados.

A questão-chave para entender a diferença entre os testes disponíveis para Covid-19, porém, é compreender que as indicações são distintas. Os testes moleculares são indicados para identificar infecção ativa. Se a pessoa teve contato com o vírus há poucos dias e começou a apresentar sintomas, faz o teste molecular. Os testes sorológicos são mais indicados para apontar se a pessoa já teve contato com o vírus e se desenvolveu anticorpos. Por isso, precisam ser feitos passado mais tempo do surgimento de sintomas, com 14 dias ou mais de intervalo.
No caso dos testes rápidos, a janela para testagem costuma ser entre o sétimo e o décimo dia. São os testes que podem orientar as autoridades, por exemplo, no entendimento do alcance e da disseminação da doença entre a população. Desde o início da epidemia no país, o governo federal comprou milhares desses testes, importados, com prioridade para testagem de profissionais de saúde e agentes de segurança. Antes de serem distribuídos, os testes passaram por análise pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fiocruz.

Por um lado, ganha força o desenvolvimento de novos testes moleculares, que analisam a presença do vírus, mas com métodos diferentes do PCR. Na segunda quinzena de junho, o Einstein começará a aplicar um método de sequenciamento genético de nova geração do novo coronavírus. A tecnologia foi desenvolvida em dois meses dentro do próprio hospital, que aproveitou a ociosidade de máquinas de diagnóstico de outras doenças — sua utilização havia caído pela metade com a atual pandemia. “Nessa necessidade de aumentar a capacidade de testagem, começamos a buscar métodos alternativos que não os tradicionais em testes moleculares. Nosso olhar se voltou para máquinas de medicina de precisão, usadas normalmente para testes de genoma, prevenção de risco de câncer, testes farmacogenéticos etc., que estavam ociosas no laboratório. E resolvemos aplicar essa tecnologia para sequenciar pedaços do genoma do novo coronavírus”, explicou Cristóvão Mangueira, diretor do Departamento de Patologia Clínica do Einstein.

Algumas cidades brasileiras, como Niterói, começaram a realizar drive-thru para aplicar os exames. F
O teste sequencia fragmentos do RNA do novo coronavírus, em um método parecido com o do PCR, mas com outros equipamentos. Segundo os responsáveis, é ainda mais ágil no processamento das amostras. “Como ele processa até 1.500 amostras simultaneamente, com especificidade de 100%, consegue baixar muito o custo do exame”, acrescentou. Já no campo dos testes sorológicos, a corrida tem sido por aumentar a especificidade dos exames para identificar o novo coronavírus, detectar a carga viral e evitar falsos negativos. A sensibilidade para diagnóstico de sars-CoV-2 varia muito entre os testes disponíveis no mercado. A expansão dos sorológicos também coincide com o fato de que, por serem uma tecnologia mais acessível, são considerados os de maior custo-benefício para autoridades e empresas quando se fala em testar milhares de pessoas na discussão de retomada de atividades no país. O exame pode ajudar a identificar quem já desenvolveu certo nível de imunidade e poderia retornar ao trabalho — embora não seja consenso entre especialistas a discussão sobre um “passaporte de imunidade” em uma doença nova e com estudos sobre relatos de reinfecção.

“O Brasil ainda está atrás na testagem em comparação a outros países. E é fundamental, para uma volta à vida normal, ter um raio X de como estamos em termos de contaminação e geração de anticorpos. Isso passa por aumentar a testagem, educar sobre protocolos”, disse o presidente da Roche Diagnóstica no Brasil, Antonio Vergara. A empresa é uma das que acabam de conseguir aprovação da Anvisa para comercializar um novo teste sorológico para Covid-19. Realizado por coleta de sangue, o exame detecta a presença de anticorpos (os chamados IgM e IgG) para o novo coronavírus.
Os testes sorológicos são os que mais demandam pedidos de regulação atualmente na Anvisa. A agência diz que tem priorizado a agilidade na análise das solicitações. Mas nem todas passam por ela. É possível encontrar hoje, no país, produtos que tenham sido importados e adquiridos de acordo com uma lei surgida à luz da pandemia que autorizou a importação de produtos sujeitos à vigilância sanitária de forma excepcional e temporária — e desde que tenham sido registrados por uma autoridade sanitária estrangeira e estejam previstos em ato do Ministério da Saúde.

É apenas o primeiro passo para uma utilização segura. Depois do registro, cabe a laboratórios comprovar a validação e eficácia do teste. O Grupo Fleury, por exemplo, testou mais de dez marcas registradas de testes sorológicos até se decidir por qual usaria. E, recentemente, desenvolveu com tecnologia própria um método de teste molecular, que usa reagentes diferentes do PCR, e com foco em testagem em áreas remotas do país. “O RNA é uma molécula frágil, delicada. Temos de pegar o material do paciente, manter em temperatura baixa até chegar ao laboratório e realizar o teste. Se demorar muito, o material pode se danificar e testar falso negativo, ou ser inconclusivo. O que fizemos então foi desenvolver um teste que detecta outra parte do vírus, mais estável, que aguenta melhor variações de temperatura e tempo”, explicou o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury. A ideia é que o teste seja aplicado fora de grandes centros como Rio de Janeiro ou São Paulo, onde as facilidades para testagem estão acima da média da realidade brasileira. “Não é um exame criado para competir com o PCR. É para viabilizar que determinadas áreas do Brasil possam testar suas populações”, completou.

Novos testes continuarão surgindo, à medida que a doença não arrefece. “Partindo do pressuposto de que são validados em relação à eficácia, nenhum teste é ruim, sejam PCR ou sorológicos. Mas é preciso cautela. E entender a indicação e o período em que os testes devem ser feitos”, concluiu Priscilla Martins, da Abramed. A associação lançou recentemente um programa próprio de validação de testes. Também recomenda, a empresas que optam pelos sorológicos para seus funcionários, que busquem parcerias com laboratórios e profissionais qualificados para uma utilização segura. O mesmo vale para o público em geral. “A melhor pessoa para definir o teste a fazer é o médico. É ele quem tem autonomia para prescrever o exame a partir da conversa com o paciente, do entendimento dos sintomas e do tempo de contato”, disse Martins.

Fonte: A voz do povo bj
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