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CPI encurrala Queiroga enquanto Bolsonaro ameaça: “Sem voto impresso não vai ter eleição”


Ministro da Saúde se esquivou de perguntas e recusou a se posicionar sobre cloroquina, irritando o comando da comissão. Pelo segundo dia seguido, presidente sobe o tom. Depois de atacar China, nesta quinta criticou sistema eleitoral.

Submetido a uma intensa pressão de senadores, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga abraçou um discurso escorregadio em depoimento à CPI da Covid-19. Recusou-se a responder sua posição sobre o uso da cloroquina, afirmou ter total autonomia para conduzir o ministério e defendeu que “não há ministério dissociado da presidência”. Contraditoriamente, admitiu que não participa da elaboração nem foi consultado pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o decreto aventado por ele para barrar as medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores para frear o contágio do coronavírus. O tempo todo, Queiroga parecia tentar equilibrar-se na dura tarefa de tentar descolar-se do negacionismo do Planalto e, ao mesmo tempo, blindar o Governo. Várias vezes, o ministro afirmou que não faria “juízo de valor” sobre declarações do presidente e, ao mesmo tempo, disse defender o uso de máscaras e o distanciamento social contra o vírus. Enquanto o ministro era sabatinado pelos senadores e tentava esquivar-se de grande parte das perguntas, Bolsonaro chamava o Brasil de “republiqueta” em uma live e dizia que “se não tiver voto impresso em 2022, não vai ter eleição”. Desgastado pela CPI e um dia depois de subir o tom atacando a China, o presidente também voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal e a ameaçar impedir as medidas restritivas determinadas por governadores e prefeitos.

A postura escorregadia de Queiroga, em um malabarismo para evitar críticas ao chefe, acabou irritando o comando da CPI. Repetidas vezes, o ministro foi aconselhado a ser ser mais objetivo e lembrado que, como testemunha, tinha obrigação de responder às perguntas. Mesmo pressionado, ele não respondeu sua posição sobre a cloroquina. Apenas disse não ter autorizado a distribuição do medicamento e que desconhece o tamanho do estoque da droga na pasta que comanda. O Exército turbinou a produção de cloroquina durante a pandemia mesmo sem evidências de sua eficácia contra a covid-19, e a oposição decidiu requisitar formalmente informações sobre os estoques. Diante do tom incisivo adotado pelo relator Renan Calheiros, governistas o acusaram de tentar “induzir” respostas e ouviram da oposição que as reclamações visavam obstruir a comissão. Com o Planalto já encurralado, a elevada tensão no interrogatório de Queiroga antecipa a artilharia pesada que o ex-ministro e general Eduardo Pazuello deverá enfrentar no seu depoimento, marcado para 19 de maio.

Fonte: EL PAÍS

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